sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Religiosidade III

E para completar, uma noite tive um sonho...eu estava num lugar todo branco, havia mesas e pessoas sentadas nelas, todas discutindo como é poderiamos mudar o mundo. Queriamos um mundo de mais amor e paz e todos alí meditavam sobre o assunto, um pouco desanimados. Eu interrompi o silencio dizendo que eu sabia como mudar o mundo...e cantei uma musica para nós e nesse momento minha voz ecoou no espaço enquanto eu sentia uma imensa paz e felicidade dentro de mim.

Era uma musica do Caetano Veloso, e curiosamente eu não me lembro de ter prestado tanta atenção a essa musica antes desse sonho. Mas depois desse sonho curioso e bonito, passei a ouvi-la muitas vezes e estranhamente parece que veio como uma mensagem realmente.

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Para ouvir: http://br.youtube.com/watch?v=HQaKROzvQ2U
Como eu queria ouvir um dia a Bethânia cantando isso...

Religiosidade II


O porquê que em algum momento achei que Alberto Caeiro era meu pastor... porque é exatamente desta forma que ando com Deus a toda hora.


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Religiosidade

Ha algumas semanas atrás, andei especialmente incomodada com algumas expressões de falta de responsabilidade das pessoas sobre a vida e sua consequências, além da responsabilização de Deus por tudo que acontece.

Foi mais ou menos assim, trabalhando perguntei a uma pessoa se ela poderia estar presente numa atividade que aconteceria ainda na mesma semana. Ela me respondeu: Se Deus quiser.
O que me incomodou é que não pude entender se ele iria ou não estar presente, fiquei pensando como é que eu ou ele ia saber se Deus iria querer que ele estivesse presente, e então tive que esperar até o dia. Parece que ¨Deus quis¨ e ele chegou.

Bom, na mesma semana, também trabalhando, estavamos decidindo sobre algumas coisas importantes e uma das pessoas disse concluindo: Vamos deixar na mão de Deus, que ele sabe o que faz!
Eu não duvido disso, acho que Deus sabe o que faz, mas e nós? Sabemos o que estamos fazendo?
Fiquei com um misto de pena de Deus e das pessoas, afinal são tantas as pessoas e coisas a serem decididas que acho que tem que rolar uma parceria, porque ¨entregar na mão de Deus¨ me parece um pouco comodo demais. Ainda pensei, ok, e se não der certo... será porque Deus não quiz, porque não deu conta, ou porque as pessoas envolvidas não assumiram suas responsabilidades...? Ou porque não somos merecedores da dadiva divina, ou porque não fizemos por merecer...talvez por não assumir a responsabilidade que nos cabia e Deus se aborreceu?

No meu misto de influencia espirita, catolica, antroposófica, cientifica e principalmente do vicio em observar a natureza, aprendi a me incomodar com uma serie de coisas, adorar outras, refletir sobre tudo e a cima de tudo continuar observando.

Sei que as conclusões são necessárias, porém também que elas estão sempre em continua mutação.

Há alguns anos atrás cheguei a conclusão de que o Sagrado e o Profano, são a mesma coisa. Assim como em outro momento, anterior tive a certeza de que a Lua era Deus, e depois de que Deus estava presente no fogo e na linha do horizonte. E em mais um momento senti que eu era Deus. E também em algum momento de que Alberto Caeiro era meu pastor! Assim como Jung via Deus nas borboletas.

Nunca me desfiz de nenhuma dessas conclusões. E apesar de me incomodar quando alguém passa a responsabilidade da sua e nossa vida para Deus, adoro quando alguém fala: Fique com Deus! Aí sim, me sinto abraçada por todo o universo de poder, beleza e aprendizado que a vida é, e que está dentro e fora de mim.

Do meu incomodo com a falta de responsabilidade das pessoas sobre a vida e delegação de suas tarefas e responsabilidades ao seu Deus, percebi que de uma forma ou de outra isso me deixou mais religiosa com minha exigencia do que acredito que a vida e as pessoas podem ser.

Amém!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dia Branco III

São dias de silêncio, inteiros de aço e flor
Acidez em branco e preto, nem o vento se manifesta
Quietude

Desejos reclusos, pensamento vago e nenhuma certeza presente

Só eu,
em mim só.